21.1.08

volta chanfana que estás perdoada!

Dada que vou sendo aos tachos, às panelas e ao fogão, sempre que compro uma revista ou um jornal vou cuscar a secção de culinária. A Nouvelle Cuisine, apesar de um conceito francês já com barbas, em Portugal, parece-me!!, estar no seu auge.. por onde vou passando os olhos, ele é “Pastelão de queijo de cabra sobre salada morna de rucola e tomate cereja”, “Embrulho de farinheira e maçã reineta sobre salada morna de grelos”, “Aveludado de cogumelos com presunto e espuma de queijo”! Mas o que é isto?!
Meus senhores, isto é informação a mais, sabemos tudo o que está no prato! E então a velha questão “oh chefe, como é o bacalhau à chefe? (sim, porque qualquer restaurante que se preze tem bacalhau à chefe!) Acabam assim com o factor surpresa, com o “mas não era isto que eu queria!” ou “desculpe, mas eu pensava que o bife à casa era…” e por aí adiante. E com o romântico que é acabar um jantar com toda a gente descontente porque, afinal, ninguém comeu o que queria! Hoje, nada disto acontece. Está escrito “Lombo de tamboril recheado com açorda de ovas sobre cama de legumes” e é isso mesmo eu vem no prato.
Sob o ponto de vista dos turistas também não está fácil! Em tempos as ementas diriam: “Carne de porco à Alentejana”, “Rojões à moda do Minho”, “Feijoada à Transmontana”, entre muitas outras referências geográficas associadas aos nomes dos nossos pratos típicos. Um turista chegado, por exemplo, de Inglaterra, senta-se no primeiro tasco que encontra e tenta decifrar a ementa. Claro, não entende.. chama o empregado.. que, como é óbvio, domina a língua inglesa “ah!! Carne de porco à alentejana?! Isso é “meat com patatoes à alentejana”. Ora o turista só entendeu o “meat” e o “patatoes”. Gostou do que comeu, sai do restaurante e vai à procura de “alentejano” e.. no dia seguinte “rumo ao Alentejo que se faz tarde!” a isto chama-se promoção turística. Agora se tem comido qualquer coisa como “pequenos medalhões de carne em pimentão salteados sobre cama de batatas com pequenos apontamentos de couve-flor e cenoura de vinagrete”, onde é que ficava o turismo alentejano? Ah pois! Ou se tem optado por comer feijoada à transmontana e na ementa consta-se “feijões cobertos por farinheira e morcela em rodelas acompanhados com couve e cenoura previamente passadas ao vapor”?
Mas há mais… uma jantarada entre amigos, no final “então e o que jantaste?” e a ementa tinha sido: Entrada: “Rolos de ovos e espinafres com recheio de queijo creme e fiambre”; Sopa: “Creme bicolor de beterraba e de courgette com estaladiço de bacon”; Prato principal: “Flans de atum e batata palha com alho francês” acompanhado por “Salada em taça de folha brick com vinagreta de morangos” e para sobremesa duas ma-ra-vi-lho-sas opções: “Espuma de framboesa com gelado de citrinos e hortelã da ribeira” ou “Transparência de abacaxi com gelado de nata e toffee de caramelo”. Resposta: “opá, sei lá, qualquer coisa de atum e ananás no fim” Ora!! Haja memória!!
Isto ainda pode trazer alguns dissabores ao matrimónio “Ai, mas então, não sabes o que jantaste?! Bebeste?! Ou será que não foste jantar?!”
Esta conversa vai longuíssima, mas não posso deixar de perguntar: e as azeitonas? e o pão? e a broa? e a picheira de vinho? E o…. queijo? Onde é que ficam no meio disto tudo?

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