16.2.08

Ai.. se nois todos assi sesse!!

O poeta Zé da Luz, do início do século, nasceu e viveu lá para os lados do Sertão de Pernambuco, numa cidade chamada Arco Verde. Um dia disseram-lhe que “ p’ra falar de amor era necessário um português correcto”, aí ele escreveu assim:

Ai se sêsse!
(ouvir)
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Da vês que nois dois ficasse
Da vês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

Certo dia, na mesma cidade de Arco Verde, Zé da Luz mostrou a sua poesia “às gentes das letras”.. estes sorriram e disseram “Zé da Luz nunca poderia vir a ser um poeta, porque não dominava a língua portuguesa!”
E digo eu: “e se esta gente num existisse!”

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